quinta-feira, fevereiro 09, 2006

Vientiane: entre o sublime e o surreal

No primeiro dia de 2006 comprometemos o nosso orcamento semanal e aprendemos uma licao: o dia 1 de Janeiro nao eh o melhor para viajar. Chegamos a Vientiane -- capital do Laos -- e todas as guesthouses estao cheias. Os quartos que nos mostram sao escuros e bafientos e nos achamos que neste dia festivo merecemos melhor. Para isso, temos que gastar mais do que previsto em alojamento. Optamos por um local cheio de cor e madeiras escuras, televisao (com canal de desporto para deleite do PM) e casa-de-banho com azulejos de vidro. Um verdadeiro luxo depois da viagem que fizemos apertados num suposto VIP bus, partilhado com tres simpaticos brasileiros de S. Paulo.
No dia seguinte a festa continua em Vientiane. Eh feriado nacional e algumas pessoas comemoram nas ruas o Ano Novo. Ah porta das casas comem, ouvem musica e bebem cerveja. Quando passamos desejam-nos felicidades com sorrisos rasgados de quem esta realmente a divertir-se. A cidade esta deserta como Lisboa aos domingos, mas deixa transparecer uma vitalidade de adolescente que comeca a querer libertar-se dos pais. O consumo comeca a despontar e os precos praticados sao muito elevados. Os restaurantes esforcam-se por imitar os franceses, nao so no nome mas tambem na quantidade infima de comida que servem.
Os templos de Vientiane sao lindissimos, mas o Pha That Luang eh o mais importante monumento nacional, gracas ah impressionante stupa dourada de 45 metros, que serve de motivo a dezenas de postais ilustrados e de fundo a fotografias de familia. Eh impossivel ficar indiferente ao belo, assim encontrado no meio de um ceu azul sublime, sobretudo depois de nos termos deparado com o estranho Arco do Triunfo ca do sitio -- uma grande estrutura inacabada, ainda por rebocar e pintar, construida com cimento oferecido pelos EUA, em 1969, para a instalacao de um novo aeroporto na cidade. Oficialmente designado Patuxai, o monumento destina-se a homenagear os soldados que morreram nas guerras pre-revolucionarias.
A bizarria nao fica por aqui. A cerca de 24 Km de Vientiane descobrimos o Xieng Khuan, tambem conhecido por Buddha Park. Uma consideravel extensao de terreno adornada com centenas de esculturas de deuses hindus e budas reclinados, deitados ou em posicao meditativa. Passeamos por ali debaixo de um calor torrido e, nao sabemos se eh fraqueza ou outra coisa, mas parece que aqueles olhos todos nos perseguem sem descanso. Pelo sim pelo nao, deixo flores nas maos de uns quantos, depois de ter entrado na surreal boca de inferno que nos recebe ah entrada do parque concebido pelo artista-espiritual Luang Phu Boon Lua.
Tal como no resto do mundo, tambem no Laos os jornais fazem retrospectivas e balancos nos ultimos dias de Dezembro. Gracas aos periodicos em ingles (atrasados, mas sempre sao melhor que nada) que conseguimos encontrar na Joma (a patisserie onde todas as manhas perdemos a cabeca e aliviamos os bolsos), fico a saber que apenas em 2005 um medico lao conseguiu realizar, com sucesso, a operacao ao coracao de uma mulher de 24 anos e de um miudo de quatro. Os meios usados e que permitiram a proeza foram todos disponibilizados pelo Luxemburgo.
Eh com esta noticia que volto a lembrar-me que o Laos eh um dos paises que integra a lista dos menos desenvolvidos do mundo. Talvez o Governo atinja a meta que persegue e em 2020 esteja na lista oposta. A avaliar pela quantidade de homens ocidentais que encontramos a passearem com mulheres asiaticas percebemos os receios de uma ou outra pessoa com quem falamos: que o Laos se transforme noutra Tailandia. Ate porque este eh o modelo mais copiado por estes lados. Os apertados jeans comecam, paulatinamente, a substituir as tradiconais saias compridas com barra bordada e as motas ja dominam o transito sem piedade. [AV]

1 Comments:

At 11:52 da manhã, Blogger post_it said...

Obrigada amigos!
http://papelinhoamarelo.blogspot.com!
beijinhos grandes

 

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