segunda-feira, dezembro 26, 2005

Tailandia: Goodbye India, sawatdii Tailandia!

Por entre receios de gripe das aves, preconceitos europeus sobre a Tailandia (como o pais resumir-se a uma estancia balnear e/ou sexual), e uma quase inexplicavel nostalgia de abandonar a India, embarcamos no aviao com destino a Bangkok. Voamos na Cathay Pacific, considerada em 2005 como uma das melhores companhias de aviacao mas certamente nao pela comida que servem em classe turistica. Decepcionante, ah excepcao do croissant fresquinho...
Mal o aviao comeca a baixar surgem os primeiros sinais de que o nosso proximo destino eh capaz de ser um pouco diferente da India onde passamos as ultimas seis semanas: enquanto a aeronave aterra, joga-se golfe num campo situado mesmo ao lado da pista. Este insolito dah lugar a um espanto quase infantil ao verificarmos a grandeza do aeroporto onde aterramos, cheio de longos corredores e uma quantidade assombrosa de postos para verificacao dos passaportes (onde julgo que nos tiraram uma fotografia as iris). Passada a primeira barreira deparamos com lojas dutyfree certificadas com ISOs 9001... Percebemos que ja nos tinhamos esquecido como os aeroportos podiam ser asseados, grandes, brilhantes, quase bonitos. E com papel higienico nas casas de banho.
Recolhidas as mochilas que mais pareciam filhotes de Alien por estarem embrulhadas num casulo de celofane (servico prestado no aeroporto de Mumbai em troca de umas largas rupias) dirigimo-nos para o proximo choque: onde estao os rickshaw-wallahs que nos tentam levar prontamente para o seu veiculo a "precos de saldo" e com promessas de terem a melhor guesthouse da cidade? Ah, aqui estao eles, ou melhor, elas, devidamente fardadas e identificadas. As "wallahs" daqui pertencem a cadeias internacionais de rent-a-car e procuram impingir limousines ate ao centro da cidade. Mas desistem ao primeiro "no, thank you" o que nos deixa livres para apanhar um taxi (onde foi preciso dizer tres vezes ao motorista para utilizar o taximetro...) e procurar cumprir o plano tracado no aviao: apanhar um autocarro para Suthokhai, cidade no centro da Tailandia, e deixar a visita a Bangkok para daqui a um mes e meio, altura em que teremos de regressar ah capital do pais para apanhar novo voo.
O percurso pela autoestrada que nos leva ao terminal dos autocarros eh surpreendente. Nesta via de piso impecavel circulam automoveis modernos, a velocidades moderadas e cumprindo as regras de transito. Decididamente, um mes e meio na India chega para esquecermos que existem locais com regras. E que estas podem ser cumpridas. Na estacao de autocarros temos o primeiro contacto mais intimo... ou melhor, contacto mais proximo, com a Tailandia. O terminal eh o mais ordenado possivel, com espaco adequado para inumeras carreiras para todos os pontos do pais. Nao ha lixo no chao, seja nos passeios ou nas ruas. Dentro do edificio principal sucedem-se bancas de comida e lojas de conveniencia (mais tarde constataremos que existe um 7-Eleven em quase cada esquina), onde os produtos frescos/embalados estao impecavelmente apresentados/arrumados. A casa de banho, paga, tem bons padroes de asseio (os urinois ate estavam numerados...). A zona de espera tem cadeiras, luxo raro na India onde o comum era as pessoas sentarem-se ou deitarem-se no chao e esperar longas horas pelo seu transporte. As pessoas que encontramos vestem-se de forma ocidental. Voltamos a ver calcas de ganga, mini-saias, blusas justas, tenis all-star. Um mundo totalmente diferente que nos manteve num estado continuo de profundo - e patetico! - espanto. O unico senao desta chegada ao Pais das Maravilhas reside no facto de praticamente nada estar escrito em ingles. Nem a Coca-Cola escapa. Os caracteres tailandeses, incompreensiveis para nos, ocupam toda a paisagem visual, aumentando a sensacao de estarmos num lugar distante e estranho.
A estranheza, ja se sabe, facilmente se entranha (tal como a bebida). E depois de uma viagem de autocarro de sete horas (numa camioneta com ar condicionado e bancos almofadados) por uma autoestrada quase sempre em linha recta onde nao houve ultrapassagens de vida ou de morte, chegamos menos cansados do que o habitual ao nosso destino, ja de noite. No terminal de Sukhothai somos recebidos por alguns condutores de tuk-tuk (o riquexo ca do sitio) que pedem valores exagerados para nos levar ah cidade ao mesmo tempo que nos mostram folhetos sobre esta ou aquela guesthouse. Dizemos a um deles que queremos experimentar primeiro uma determinada guesthouse (que ele afirma estar cheia), negociamos o preco do transporte e, para nossa surpresa novamente, ele acaba por aceitar o trato com um sorriso.
A guesthouse esta, de facto, cheia. O condutor ri-se e leva-nos ao sitio onde provavelmente tera a sua comissao. Enquanto a AV guarda as malas, sigo desconfiado o simpatico homem que me recebeu na guesthouse para verificar as condicoes do bungalow proposto. Saio do quarto a dizer Bendita Tailandia. Por um preco inferior a qualquer dos sitios em que ficamos na India temos direito a um bungalow de palhota e madeira, com cama grande e confortavel, WC ladrilhado e agua realmente quente. E tudo sem a "casa" abanar mal damos um passo...
Depois de jantarmos o ultimo bolinho de chocolate comprado no 7-Eleven, adormecemos com um sorriso nos labios e uma sensacao de seguranca para aquela que eh provavelmente a noite de sono mais calma e relaxante desde o inicio da viagem. Sawatdii Tailandia... sawatdii... saw... [PMM]