sábado, dezembro 17, 2005

Cochim: Aniversario entre as dancas Kathakali

Depois de Goa seguimos viagem para Cochim, no estado do Kerala, onde nos deixamos inebriar pelo forte cheiro a pimenta. Percebemos logo o encanto que esta terra tera exercido sobre portugueses, holandes e ingleses - todos eles aventureiros colonizadores destas paragens. Ha especiarias no ar, porque brotam dos quintais das casas bonitas que ladeiam as rua desafogadas. Chegamos no dia 29 de Novembro e estranhamos, pela segunda vez, que nao queiramos ir logo embora. Eh bom estar aqui, na Napier Homestay, a partilhar o dia-a-dia da familia que nos acolhe com um sorriso sincero e a tomar duches de agua quente, mesmo que la fora esteja um calor de bradar aos ceus. A familia eh mesmo uma familia: pais, filhas e avo. Todos abencoados por um Sagrado Coracao de Jesus pendurado ah entrada, porque sao cristaos, influencia de antepassados britanicos.
O termometro que a nossa amiga L. nos emprestou marca quase sempre 35 graus centigrados, mas mesmo assim encharcamo-nos em cafe com leite e torradas com manteiga no Vasco Cafe (em homenagem ao nosso Vasco da Gama, que ali ao lado tera passado os seus ultimos momentos na consoada de 1524). Eh assim, com o estomago ja reconciliado da fome passada no comboio (numa viagem de 16 horas, mas ainda assim imaculada, com revisores de calcas brancas e vincadas), que vamos descobrir um dos quadros mais perfeitos que a India nos reservou - as redes de pesca chinesas. Ao largo do Mar Arabico e mesmo ao pe dos cargueiros que passam, estao estas grandes estruturas de madeira, que mais parecem aranhas gigantes, sustentando redes de pesca. Conforme as mares estao ou nao de feicao, assim os pescadores as baixam ou levantam para recolher o pescado. Mais tarde, no passeio de sete horas que fazemos entre Allepey e Kollam, pelo meio de canais placidos de aguas verdes, voltamos a encontra-las.
Em terra vende-se o peixe acabado de pescar, sob a forma de "fast food" saudavel: "You buy, we cook!", explicam-nos em cartazes. Cheira a lota e a redes de pesca a serem consertadas a bordo de pequenas embarcacaoes. Sem percebermos a razao, constatamos a inexistencia de pedintes. Talvez porque o mar dah alimento que chegue para todos. Ou apenas porque os policias, fardados de camisa azul e calcas castanhas, patrulham a zona de tras para a frente.

E de repente, quase sem eu dar por isso, no dia seguinte (30/11) ja eu estava mais velha um ano... Vejam so como se pode comemorar um aniversario em Cochim:
00h07 - Por baixo do mosquiteiro cor-de-rosa, o PM acorda e da-me um beijo entaramelado de parabens
9h00 - Pequeno-almoco na Napier Homestay
9h30 - Massagem ayurvedica com uma indiana que nao fala ingles. Nua, fui esfregada, massajada e envolvida em oleos medicinais
10h15 - A indiana enrola-me num pano e leva-me para o duche onde me volta a esfregar, desta vez com sabonete e shampoo ayurvedico (parecia a minha mae a esfregar-me o 'surro' do pescoco quando eu era pequena)
10h30 - Regresso feliz e contente para a guesthouse
10h45 - A senhora Napier espera-me ah porta de casa, com um sorriso gigante, e da-me os parabens 10h50 - O PM canta-me os parabens com bolinho de chocolate, vela e ramo de flores
11h00 - A avo da familia da-me os parabens (e, mais tarde, outros desconhecidos da vizinhanca fazem o mesmo deixando-me profundamente feliz e comovida... ate a florista que vendeu as flores ao PM me ofereceu 'congratulations' meio timida)
12h00 - Visita ao Museu Indo-Portugues. Altura de constatar o excelente trabalho que a Fundacao Calouste Gulbenkian mantem por estes lados. O senhor dos bilhetes conta-nos a historia toda da passagem dos nossos antepassados por Cochim e, no fim, convence-me a comprar uma essencia de lirio, flor cultivada ali mesmo no jardim
13h00 - Sopa de tomate divinal no Keshi Art Cafe
14h30 - (9h00 em Portugal) Telefonema aos meus pais... eu nasci as 9h00 e a minha mae tem o costume de me telefonar todos os anos no minuto em que nos cortaram a relacao umbilical
17h00/20h30 - Longo, muito longo (mas extraordinario) espectaculo de danca Kathakali - um dos quatro tipos de danca classica indiana. O tradicional Kathakali foi e continua a ser executado nos dias festivos como parte dos rituais que tem lugar nos templos hindus. Actualmente, eh possivel assistir a versoes mais curtas destes espectaculos (os originais podem durar oito horas), onde ate nos deixam ver os actores a maquilharem-se de forma dramatica e colorida. As pinturas que utilizam, os gigantescos e impressionantes aderecos que colocam na cabeca e ainda as magnificas saias armadas que envergam, totalizam aquilo a que recorrem externamente para reforcar a representacao. O resto fica por conta da sua capacidade de expressao, traduzida unicamente por movimentos de olhos, trejeitos, gestos (sob a forma de 24 'mudras'), saltos ou posturas corporais. Tudo conjugado com percussao e canto.
20h45 - Jantar no Fort House hotel - excelente comida de Kerala, gastronomia famosa pela deliciosa combinacao de peixe e leite de coco. [AV]

Proxima etapa : 24 baldes de agua fria na cabeca em Rameswaram