terça-feira, janeiro 10, 2006

Tailandia-Laos: Mekong em camara lenta

Atravessar o Mekong foi a forma que escolhemos para chegar ao Laos. No dia 21 de Dezembro iniciamos a primeira de tres etapas de uma viagem que so estaria concluida no final de dia 23. Apesar de tudo o que lemos sobre os inconvenientes de optar pela via fluvial, acabamos por querer fazer assim mesmo. E nao nos arrependemos.
A primeira parte da viagem eh feita numa carrinha tipo Hiace, juntamente com outros ocidentais que querem fazer o mesmo que nos. Ao meu lado, tenho as pernas e os bracos de um americano antipatico, que se estica como se estivesse na casa dele. So me consigo ver livre deste rapaz hiperactivo em Chiang Khong, pequena cidadezinha sem historia no Norte da Tailandia. O frio atravessa-nos os ossos e eu sou a unica a acreditar na historia da agua quente disponivel nos balnearios instalados em barracoes nas traseiras dos bungalows (serviu-me de licao, ah pois serviu!). A janela da cabana de madeira que nos eh atribuida nao fecha e o PM obriga um dos empregados da guest house a dormir sem o seu proprio cobertor.
Na manha do dia seguinte reiniciamos uma sucessao de entradas e saidas em carrinhas que nos levam ate ao controlo de passaportes. Eh entao que, quase sem darmos por nada, ja estamos no Laos. Depois de eu tanto fantasiar sobre esta passagem fronteirica, dou por mim a chegar a Huai Xai sem pompa nem circunstancia, depois de uns miseros 10 minutos num barquinho rasteiro. Senti-me como uma especie de noiva surpreendida com a rapidez da sua noite de nupcias.
Novo controlo de passaportes e vistos e, pela primeira vez, encontramo-nos milionarios. Logo ali na fronteira trocamos uns dolares por kips (moeda do Laos) e ficamos sem saber como transportar os macos de notas que nos passam para a mao. So para terem nocao, um dolar corresponde a cerca de 10 mil Kips.
Dai a cerca de uma hora estamos a escolher o banco de madeira em que seguiremos sentados durante o resto do dia, com o Mekong por companhia. Estamos prevenidos com toalhas a fazerem de almofada e polares para cortar o frio. A meio da viagem ja nao sabemos o que fazer as pernas, porque a inclinacao lateral do casco do barco nao nos deixa sentar a direito com os pes assentes no chao.
Mas tudo isto eh pequenino e insignificante quando olhamos para a paisagem que nos envolve os sentidos durante horas e quilometros. As margens do rio oferecem-nos extensoes infindaveis de terra e vegetacao. Nao ha casas nem carros. Mas ah areia branca e um ou outro barco que passa por nos a transportar generos. Eh poetico e carregado de frases feitas, este cenario. A beleza tem destas coisas.

So ocasionalmente somos acordados deste torpor, quando os speed-boats passam por nos a uma velocidade alucinante, deixando um rasto de barulho ensurdecedor (nos seguimos em slow-boats, mas ha quem opte por fazer a viagem em speed-boats, demorando apenas oito horas a fazer um percurso que nos fazemos em dois dias. Diz quem sabe que a experiencia do speed-boat eh terrivel e traumatizante, nao so pelo barulho dos motores - que podem deixar sequelas durante dias - mas tambem pelo elevado risco de acidente).
Sao talvez 17h30 e a noite ameaca cair de um momento para o outro. O barco atraca em Pak Beng, localidade onde iremos passar a noite. Depois de me passarem a mochila para os bracos tenho um ataque de riso desesperado. Ali estou eu, do outro lado do mundo e sem conseguir dar um passo, presa pelo peso da bagagem. Ah nossa frente esta uma ravina de areia. Eh preciso subir a montanha para chegar a Pak Beng. No meio das gargalhadas, digo ao PM que nao vou conseguir chegar la acima, porque se mexo os pes caio para tras, puxada pela mochila.
Acabo por conseguir trepar a ravina e chegar a uma guesthouse toda construida em madeira. Primeira surpresa: no meio do nada, temos uma casa-de-banho com sanita. Segunda surpresa: numa aldeia do Laos que se calhar nem vem no mapa, encontramos uma rua repleta de restaurantes, hoteis e lojas que vendem Pringles, televisoes de ecra plano e VCDs piratas. Sao os efeitos do turismo, que ali se faz sentir apenas por causa desta paragem, a caminho de Luang Prabang.
Na manha do dia seguinte tomamos o pequeno-almoco na rua, sentados na mesma mesa onde a nossa anfitria prepara as sandes que serao o nosso almoco. Voltamos ao cais e conseguimos entrar num barco com almofadinhas. Em contrapartida, temos que partilhar o assento um com o outro. No caminho dou por mim a olhar para a paisagem e a tentar descortinar onde acabara este sonho que encontro enquadrado pelo caixilho de madeira das janelas sem vidros.
Com um por-do-sol magnifico chegamos a Luang Prabang. No momento em que comecamos a procurar um sitio para ficar, apaixono-me pela cidade. E percebo o encanto que a UNESCO lhe deve ter encontrado para a considerar patrimonio mundial. [AV]

Ja a seguir: Natal com massa e frango sweet and sour, acompanhado por salada de papaia e salsicha do Laos

4 Comments:

At 12:18 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Estrela
Cá faz frio, um sol brilhante e a terra vai tremendo devagarinho....Passou a época de festas e asanham-se os candidatos à presidência da República....
E dou-vos estas notícias em agradecimento do muito que têm enviado. Dos vossos olhos aos nossos corações é um pulo :-)
Preparo a minha ida para a Argentina. Que a "harmonia das esferas" (como diz Hesse)vos acolha sempre.
Beijos
Isabelua

 
At 11:07 da manhã, Anonymous Anónimo said...

A mensagem não é original...quero apenas mandar-vos um monte de beijos e abraços e agradecer-vos os "post´s" que acabam por nos deixar olhar por esse mundo fora através dos vossos olhos.
Pat

 
At 3:49 da tarde, Blogger post_it said...

Ola amigos, que bom ouvir noticias vossas!
Ja estava com saudades de viajar um pouco convosco. E como todos os dias venho religiosamente dar-vos os bons dias estava a ver que iam chegar e partir do Laos sem dizerem nada!
Um beijinho muito grande!

 
At 8:25 da manhã, Blogger av pm said...

Isabelua, Pat e post_it
Nem imaginam como eh bom ler estas vossas mensagens depois de mais de uma semana infernal em que nunca conseguimos aceder ao nosso blog (ou a qualquer outro!). Nao sabemos se alguns PCs aqui no Vietname terao um filtro que impeca a consulta de determinados sites mas a verdade eh que ja estavamos a desesperar por nao podermos ler (e responder) aos comentarios que fossem aparecendo no blog. Finalmente, neste ultimo dia da nossa estada em Dalat (amanha rumamos para Mui Ne, penultima etapa deste magnifico pais) la encontramos um PC amigo que nos permitiu apreciar as vossas palavras amigas. Podem ter a certeza de que agora estamos mais reconfortados. Obrigado!!! Beijos e abracos dos Lobos [PMM]

PS - Isabelua: depois queremos umas dicas sobre essa tal de Argentina... :-)

 

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