segunda-feira, dezembro 05, 2005

Khajuraho: UNESCO hardcore

Para chegar ah pequena localidade de Khajuraho, no estado de Madhya Pradesh, nao ha outra hipotese que nao seja apanhar um autocarro. Foi isso que fizemos na manha do dia 14 de Novembro, acompanhados por uma coreana (nao sabemos o nome dela) e do Jordi - catalao de Girona, arquitecto a trabalhar numa ONG no Sul da India. Depois de outra viagem de comboio atribulada (desta vez acordamos com o chao repleto de velhotas que nao percebemos bem de onde vieram nem para onde iam), juntamos-nos os quatro a outros quantos ocidentais e la fomos de riquexo para um ermo onde nos garantiram que o autocarro para Khajuraho iria passar. E passou mesmo. Alias, se ha coisa que funciona neste pais (estou a falar a serio) sao mesmo os autocarros. Todos os que precisamos de apanhar passam a horas e chegam no minuto (!) previsto ao destino.
Para conseguir esta pontualidade britanica, os condutores fazem malabarismos com o autocarro que quase se despedaca a cada mudanca. Pelo meio apitam furiosamente, ultrapassam perigosamente, cantarolam alegremente e nos nunca sabemos como eh que raio chegamos vivos. Em muitos autocarros nao ha portas e as janelas nao fecham. Mas ha uma caixinha de primeiros-socorros do tamanho de um radio de ouvir o relato aos domingos, o que eh um descanso.
Nesta viagem, colocaram as nossas mochilas no tejadilho do autocarro. Olhamos todos uns para os outros a tentar adivinhar o que fazer, mas ninguem ousou nada. Eu ainda alvitrei a pergunta que me andava a cirandar na cabeca: "is it safe"? O sorriso do homem respondeu-me. Mas a verdade eh que eu fiquei sem saber se era ou nao seguro.
Partimos. A viagem demora umas cinco horas. A musica grita dos altifalantes e ao fim de cinco minutos de ultrapassagens mortais deixo de me preocupar com isso. Ah chegada, temos que ser nos a ir buscar as malas ao tejadilho. O PM engole em seco. Tem vertigens. Eu dou um passinho timido em direccao as escadas. Mas ele - o meu super-homem - vence o medo das alturas e segue intrepido atras dos outros rapazes. Ele ainda hoje nao sabe como conseguiu fazer aquilo, embora tenha repetido a proeza no regresso.
Em Khajuraho, o dono de um hotel tenta convencer-nos a ficar la com o argumento de que no seu terraco passam, todos os dias, milhares de passaros... eu fiquei sem saber se aquilo era para rir ou para chorar. O cinefilo do PM lembrou-se do Hitchcock mas eu so queria era fugir das penas e da gripe das aves. Ainda assim ficamos (para sairmos no dia seguinte, expulsos pelos acaros).
Os templos de Khajuraho sao tao imponentes que se anunciam sem os procurarmos. Veem-se de quase todos os angulos da pequena localidade. Exactamente como os vendedores desta terra, que se caracterizam pela enorme persistencia (sem duvida, os mais chatos com que contactamos em toda a India).
No dia seguinte, temos encontro marcado com o erotismo, na forma de milhares de pequenas esculturas libidinosas esculpidas entre 900 e 1100 dC. Os templos de Khajuraho foram construidos durante a dinastia Chandela e sao hoje consideradas patrimonio mundial pela UNESCO. Na verdade, nem todas as pecas representam cenas de sexo, mas as mulheres rolicas estao por toda a parte em poses convidativas, la isso estao. Os guias fazem por explicar em pormenor aquilo que apontam, fazendo corar raparigas novas e outras com idade para ja terem juizo (eu, que ate sou de ruborizar, acho que disfarcei bem). Uma francesa de meia idade nao resistiu e desabafou com o marido: "Mas o que eh que lhes deu para desatarem a fazer isto?!"
Eu e o PM tambem nao sabemos o que nos deu, mas de repente sentimos que o amor andava no ar e as borboletas tambem e que o amor eh uma coisa linda!
No dia segunte ja nao estamos a fazer nada em Khajuraho. Nao conseguimos passar na rua principal sem sermos chamados para comprar, ver e mexer. Alem dos homens, tambem ha dezenas de criancas que, de bicicleta, nos acompanham em qualquer passeio que tentamos fazer. Querem levar-nos nao sabemos para onde, com a desculpa de que so querem treinar o ingles.
Decidimos partir. Na estacao das camionetas estao quase todos os ocidentais que vieram connosco, ah excepcao da coreana. Nos e o Jordi seguimos para Orccha. Ele vai para ficar ate ao dia seguinte. Nos vamos apenas fazer tempo ate serem horas do nosso comboio, que parte nessa noite de Jhansi em direccao a Delhi. Em Orccha, passeamos por ruas estreitas onde mulheres vendem pigmentos de tintas coloridas e diversas especiarias. Visitamos ruinas de um palacio e avistamos templos. O relogio para nas margens de um pequeno riacho. As aguas sao tao limpidas que ate custa a acreditar que estamos a ver a nossa imagem reflectida.
Quando o tempo volta a fazer tic-tac, iniciam-se as negociacoes com o homem do riquexo. A regatear quase de mao na anca, o PM desanca o malandro que queria dar boleia a dois amigos com os portugas a patrocinarem a brincadeira. Na manha seguinte, ja em Delhi, ameaca outro motorista (agora de taxi) de chamar a policia. Eh de homem! [AV]

Proximo capitulo: Goa ainda eh dos portuguses