domingo, novembro 13, 2005

Agra: O significado de "agreste"

No dia 5 de Novembro chegamos a Agra, no estado do Uttar Pradesh, norte da India. No caminho para o Sheela Hotel, percebo a derivacao da palavra agreste. So pode resulta de Agra e da agressividade de todos aqueles que nos tentam vender tudo, com muita, muita insistencia.
Vim para ca preparada para o pior. Na primeira vez que esteve na India, o PM ficou traumatizado com a passagem por Agra pelo que, antes de sair do comboio, eu enchi o peito de ar e mergulhei num desconhecido que receava.
O riquexo-bicicleta eh aqui muito vulgar, mas a principio custa-me muito sujeitar aqueles homens franzinos ao esforco de puxar dois latagoes ocidentais. Com o tempo, percebo que esta eh a minha forma de os ajudar. Eh o trabalho deles e eu sou uma cliente que paga os seus servicos. Pela primeira vez, vejo macacos ah solta na India. Estao por todo o lado. Mais tarde, em Varanasi, eu e o PM nao resistimos ah visao dos bichos e, mesmo ah beira do Ganges, prestamos uma homenagem ao Jose Cid: "Como o macaco gosta de banana, eu gosto de ti/ Escondi cacho debaixo da cama e comi, comi". [Nao liguem... isto do passarmos muito tempo sozinhos um com o outro da-nos para a maluqueira]
No segundo dia em Agra, levantamo-nos as 5h15 da manha para irmos visitar o Taj Mahal. Embora a atraccao turistica fique mesmo a 5 minutos do local onde estamos hospedados, queremos estar la a tempo de assistir ao nascer-do-sol. Entramos no complexo as 6h00 da manha, acompanhados por outros ocidentais que leram os mesmos guias que nos. Tambem entraram alguns indianos, mas em muito menor numero. Estes so comecaram a chegar em catadupa a partir das 10h00, enchendo o recinto por completo.
Durante toda a manha, uma nevoa sempre teimosa nao nos deixou encarar o Taj Mahal com o brilho que o caracteriza e que podemos constatar nos postais que nos querem impingir. Mas a beleza do edificio eh inegavel. Qualquer que seja a cambiante de luz do dia, detectamos particularidades distintas no marmore branco que, em formas redondas e femininas, representa o amor de um homem por uma mulher. A historia ate pode ser simples (o imperador que, inconsolavel porque lhe morreu a sua esposa preferida, decide homenagea-la com um edificio grandioso), mas representa a totalidade de uma paixao irrepetivel. Pois. 'No wife, no life!", ja dizia um condutor de riquexo ao PM depois de lhe ter perguntado se eu era mulher dele.
No ultimo dia em Agra, visitamos o Agra Fort. Mais uma vez, constatamos a quantidade de indianos que fazem turismo no seu proprio pais, orgulhosos dos seus monumentos. Mas eu (e todas as outras ocidentais) continuamos a ser atraccoes especiais nestas incursoes. Somos olhadas e miradas com atencao por todos. Homens e mulheres, todos revelam uma grande curiosidade em relacao a nos e nao tem qualquer pudor em revela-lo. No dia anterior, um pai pediu-me para posar com o filho numa fotografia, com o Taj Mahal ao fundo (e eu aceitei, sorrindo, com a mao no ombro do miudo simpatico). Hoje, a coisa assume proporcoes assustadoras. Depois de duas meninas terem ficado felizes da vida com a foto que aceitamos tirar com elas (tendo a mae incentivado uma delas a abracar-me com conviccao), sou solicitada por um grupo de miudos. Depois de dizer que sim a um, ja estava tramada... todos queriam a fotografia com a branquelas de cabelo curto. La impus a regra de "no hands!" apontando para o PM com a advertencia de "my husband"... mas enquanto permaneci no forte fui perseguida e assediada. Claro que o PM teve que assumir o seu ar de macho e dizer-lhes que "no is no", ponto final!
Depois de sairmos do Agra Fort demos uma volta pela zona, mas vimo-nos metidos numa alhada. Estavamos na zona antiga da cidade em busca de um templo, cuja cupula avistavamos, mas nao havia meio de encontrarmos o caminho ate la. Quanto mais procuravamos, mais nos embrenhavamos numa confusao de ruas estreitas, mercados, sujidade e muita gente. O sitio era asfixiante. Nao tinhamos certeza de alguma vez encontrar o tal templo, nem tinhamos certeza nenhuma de alguma vez conseguir sair deste emaranhado de bancas de fruta, fritos, tecidos, pele curtida... Em cada barraca ha um par de olhos escuros e um sorriso tingido de vermelho que nos convida - "hello" - e nos adivinha necessidades que nao temos.
Decidimos apanhar um auto-riquexo e sair dali para fora o mais depressa possivel. Alivio!
De seguida, vivemos outra aventura para encontrar a estacao de correios. Tudo o que no mapa parece perto, acaba por ficar a meia hora de caminho, por estradas iguais a todas aquelas que ja aqui descrevi diversas vezes (confusao... po...). Pergunto-me a razao que levara estes condutores a apitarem sem cessar... porque o efeito que produzem eh uma buzinadela continua que nao chama a atencao de ninguem para coisa nenhuma. Atravessamos um grande cruzamento com rotunda avaliando o tempo que uma carroca ou um automovel poderao levar ate chegarem perto de nos. Eh assim, e nao com passadeiras ou sinais luminosos, que se atravessam estradas na India.
O interior da estacao de correios lembra-nos as estacoes de comboio e isso nao me deixa descansada. De facto, tambem aqui se revela complicado comprar os selos adequados; descobrir cola para os envelopes (que nao colam com cuspo...) ou encontrar o balcao certo para entregar as cartas. Descobrimos que esta ultima tarefa pde ser feita no balcao 11. O senhor carimba as cartas com vigor e coloca-as ao lado do seu monitor (pois, de computador) e sorri-me com ar de quem diz: va descansada que as cartas hao-de chegar". Eu saio dali cheia de duvidas, mas rapidamente deixo de pensar nisso. A unica coisa que me ocupa a cabeca eh como retirar esta terra que tenho na lingua, nas amigdalas, no nariz e nos pulmoes. Olhamos ah roda e praticamos a aculturacao que se estuda em etnografia: bochechamos a boca com agua mineral (engarrafada e que transportamos sempre connosco) ali no meio da rua e cuspimos como os indianos. Alivio!
Nessa noite, seguimos viagem de comboio para Varanasi. O primeiro momento em que me senti fraquejar...[AV]



6 Comments:

At 2:40 da tarde, Blogger post_it said...

Ola amigos! Muitos beijos e abracos apertadinhos para voces... E nao precismaos de tirar "foto-foto"!
Noticias ca da terra: este fim de semana Obidos encheu-se de turistas sequiosos por um bocadinho de chocolate e bateu-se o record do maior salame de chocolate do mundo!
A equipa principal de Portugal ganhou 2-0 contra a Croacia, num jogo amigavel. Nao ha noticias de o Sporting ter contratado novo treinador ou dispensado o Ricardo ehehehehhehe
beijinhos

 
At 3:59 da tarde, Anonymous Anónimo said...

"Claro que o PM teve que assumir o seu ar de macho e dizer-lhes que "no is no", ponto final!"

Gostava de ver isso eheh

DEUS!

 
At 4:00 da tarde, Anonymous Anónimo said...

também ontem andou um lemur a passear-se pela linha azul do metro, perto do zoo, e a circulação esteve parada uma hora! são danados, o raça dos bichos:-)

 
At 6:40 da manhã, Blogger av pm said...

post_it

e nao haveria modo de nos enviares uma fatia desse salame? bom, nem nos podemos queixar. Em Varanasi comemos uns brownies soberbos. E hoje ja comemos uns bolinhos de chocolate comprados na "Confeitaria 31 de Janeiro". Pois eh, ja estamos em Goa :-)

hector
e nos tambem fugimos. so que as fugas na India demoram mesmo muito tempo, eheh. Bem dignas do Steve McQueen...

DEUS
gostavas de ver o meu ar de macho? Mas q tendencias sao essas agora?!? ;-)

 
At 1:30 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Para trás mija a burra, a da minha vizinha, a do talhante, a do merceeiro, a do administrador da EMEL, a dos que não esperam o cavalo de Tróia, a do Zé Ninguém de Reich, a dos que arrotam a presunto serrano e recusam o açafrão, a do burro mais teimoso que o próprio, a do jornalista com fedor, a do lobo com casa própria, a dos que se mijam de medo, a dos que gritam para armar, a dos que se fartam, até a burra da minha parte burra!

Seguir em frente nem sempre é caminho, mas é vida, cheirada num rosmaninho,escrita num pergaminho, abastecida de aromas e curtida por lápis azuis.

Sigam lá o caminho!

 
At 5:50 da manhã, Blogger av pm said...

Diamond,
Seguir em frente nem sempre eh caminho... e as vezes temos que voltar atras, refazer percursos e procurar atalhos. Para depois perceber que ah um caminho delineado algures para nos. Havera?Beijos da AV

 

Enviar um comentário

<< Home