sexta-feira, novembro 25, 2005

Notas de cinema: Bollywood, Bollywood, Bollywood

Num jornal, um actor de Bollywood era citado dizendo qualquer coisa do estilo: "Na India, o cinema eh como lavar os dentes de manha. Nao se consegue escapar disso." Alem do rapaz mostrar que tem cuidado com a higiene, a frase reflecte a omnipresenca do cinema - e das suas estrelas - no quotidiano indiano. Cartazes de cinema colados nas paredes das ruas, suplementos e rubricas de jornal cheios de fotos sugestivas e mexericos da industria, videoclips de musicas de filmes que passam incessantemente na TV, canais televisivos especificos de cinema, anuncios a todo o tipo de produtos que recorrem ah imagem dos actores mais famosos, novos e modernos multicomplexos que se juntam a salas tradicionais, revistas da especialidade bem estabelecidas no mercado, radios que passam hits musicais... de filmes. Homens que andam com fotografias dos seus actores preferidos na carteira. Rapazes e raparigas que imitam os seus idolos. E, tambem, ligacoes escuras e misteriosas ao mundo da Mafia (durante muitos anos foram os mafiosos que financiavam os filmes e aterrorizavam o mundo das estrelas/produtores/realizadores, com extorsoes de dinheiro e ate assassinios).

Ja se sabia que a India eh o maior produtor cinematografico do mundo, superando inclusivamente Hollywood, mas eh ao respirarmos esta dose macica de cinema que percebemos a verdadeira dimensao do fenomeno. Em certa medida, parece que regressamos ah epoca de ouro de Hollywood, onde o culto das estrelas foi levado ao estremo do glamour, da pose, da imagem.
Na India, o star system actual resume-se, acima de tudo, ao sexo. Praticamente todas as actrizes apresentam-se nos filmes, nas fotos, nos eventos publicos, nos cartazes, com vestes reduzidas (minisaias, tops colados ao corpo, ate ja vimos um caso em que uma moca aparecia em lingerie no cartaz promocional de um filme...). Quase todas tem corpos generosos, esculpidos minuciosamente (embora a AV ache que o padrao de beleza eh aqui algo diferente do que o do ocidente, prezando-se mulheres um pouco mais "cheias"). Muitas delas veem de concursos de beleza. Grande parte nao se importa de ser vista como um simbolo sexual. E o mesmo se passa com os actores mais novos, que nao perdem oportunidade de mostrar os musculos ou a pose de macho. O que espanta nesta febre pelo erotismo e sexo eh a relativa contradicao aos costumes e tradicoes sociais (as mulheres vestem saris, o que lhes deixa muito pouco ou nenhum corpo ah mostra) e o choque com outras regras cinematograficas instituidas (nao ha cenas de nus e ate os beijos na boca sao estritamente proibidos). Temos assim que eh possivel assistir a um filme repleto de mulheres e homens seminus, onde as coreografias das dancas (outro elemento imprescindivel num filme de Bollywood) sao do mais sexualmente explicito que se possa imaginar mas... beijos eh que nao.

Ha quem escreva que este periodo do cinema indiano eh um dos mais pobres (de ideias, de inovacoes, de filmes artisticos). Mas o publico parece nao se importar. Alias, a grande questao do momento resume-se ao seguinte: confirmar-se-a o rumor de que Aishwaria Rai vai aparecer pela primeira vez de biquini num dos seus proximos filmes? Er... ahem... pois... isso ate eu gostava de ver... [PMM]

Tres "curtas" a finalizar o post
1 - a AV colocou a alcunha de Al Pacino a um dos actores da velha guarda mais carismaticos ca do burgo. Chamam-lhe o Big B e tem uma barba completamente branca que contrasta com o cabelo escuro...
2 - compramos uma revista de cinema, a Filmfare, e a leitura tem-se revelado interessante. O grosso das paginas eh ocupado por pecas que interagem com as estrelas, desde as grandes entrevistas (a do numero que temos eh dedicada ah belissima Aishwarya Rai, que anda agora a fazer a sua entrada em Hollywood), a perguntas/inqueritos mais simples. As "meninas" ja se sabe, apresentam-se em poses e vestes sugestivas...
3 - em Panjin fomos ao cinema. Desconheciamos a existencia de um complexo novo e por isso fomos ao velhinho Ashok Cinema. O balcao onde ficamos estava praticamente vazio. Em baixo, na plateia, os risos prenunciavam a presenca de mais alguns espectadores, mas que nao chegavam para a sala estar composta. Era dia de estreia da comedia Garam Masala, com dois actores muito conceituados (um deles, o John Abraham eh uma especie de sex symbol) e o resto do cast cheio de meninas que competiam para mostrar a saia mais curta e o decote mais cavado. Aguentamos o filme inteiro - cerca de 2h30. A lingua era hindi. Nao havia legendas. A meio, percebemos que a nossa plateia tambem estava apinhada. De acaros. E tambem de umas pequenas baratinhas ou la que era. O filme? Serviu para confirmar a tendencia: humor algo ingenuo (muito slapstick a fazer lembrar os filmes do Jerry Lewis, situacoes previsiveis mas que ainda assim provocam risos no espectador) e corpos o mais ah mostra possivel. O pior foi que so teve tres ou quatro numeros musicais. Num deles, um dos actores "danca", alternamente, com as tres namoradas que procura manter simultaneamente (o cerne do filme sao precisamente as situacoes "comicas" decorrentes destes malabarismos). A imagem transmitida eh de que o rapaz eh mesmo um grande... dancarino, pois claro.

2 Comments:

At 10:26 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Boa noite.
Esta da sala de cinema de... (quê?) interessa-me. Gosto de filmes e de salas de cinema, sobretudo das baratas, animais que sobrevivem igualmente bem em cozinhas sujas, ou seja, pouco caras.
Eu sou de uma cidade que era Índia há 20 anos e onde os índios iam ao cinema para ver filmes de cowboys, mas também fitas em que o protagonismo era das cows, mesmo. Por isso, soube-me bem a vossa prosa, soube-me a Avenida, a Tivoli e a Sousa Bastos. Sabem quem são? Ah, pois não... mas eu sei.
Bom, tinha qualquer coisa em mente, mas divaguei, o que não significa distracção, antes pelo contrário, ou melhor, depois pelo contrário.
Andreia, se o Paulo (invoco o nome mesmo sendo um timidamente conhecido apenas) não perceber explica-lhe! Desejo um bom Natal. Tem que ser a ambos porque não vão conseguir ter um bom Natal se um o tiver e outro não!

 
At 11:36 da manhã, Blogger av pm said...

Diamond
Tivoli ainda tive o prazer, mas eh do Condes que guardo mais memorias. E marcas tambem. Foi la que um dia me deslumbrei com a imagem de um actor louro com os cabelos a esvoacar enquanto cavalgava estrada fora em cima da sua mota. As colunas do cinema nao eram DTS mas o som daquele motor tornou-se inesquecivel. Tal como o acidente que se seguiu. O resto da historia metia um Lawrence em lutas por indepencias arabes. Ainda hoje a minha idolatria pelo filme do David Lean atrai alguns comentarios jocosos de uma amiga especial ("mas aquilo eh so camelos e areia..."). Mas a memoria eh assim. Guarda coisas sem sabermos bem porque. E eh este filme, visto ao lado do meu tio cinefilo que me levava aos Condes de antigamente, que assinala, juntamente com as matines passadas ao lado da minha avo a ver os filmes do Errol Flyn e os musicais do Gene Kelly, o inicio do meu fascinio pelo cinema. Espero que o velhinho Ashok de Panjin se torne tao inesquecivel como o Condes lisboeta.

 

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